sábado, 22 de janeiro de 2011

ESCOLA: DOS DISCURSOS EMANCIPATÓRIOS ÀS NORMAS DISCIPLINARES.

Diversos discursos sobre escola circulam em livros e outros meios midiáticos, sem que se reflita sobre seus reais significados e concretização no exercício do trabalho docente. Já se disse que escola é um ambiente harmônico dedicado à pratica da educação, sendo esta considerada, segundo esses discursos, um fator de vital importa para a emancipação do indivíduo e ligada ao desenvolvimento sócio econômico de qualquer nação.

Em torno dessa questão, Demerval Saviani, Paulo Freire e Michel Foucault são, sem dúvida, os teóricos que melhor definem e problematizam esses discursos. Essa análise fundamenta-se principalmente na concepção de escola de Focault, exposta no livro “Vigiar e punir”, e na concepção de Demerval Saviani exposta no livro Escola e Democracia.

Também a obra de Paulo Freire tem um alcance mais amplo sobre educação na escola, que parte do conceito de que não existe educação neutra. Segundo a visão de Freire, todo ato de educação é um ato político. A definição de escola como local de Educação, cujo papel consistia na preparação moral, e cívica dos alunos, desconsiderando a realidade e o próprio desenvolvimento crítico e intelectual para que possa servir sua nação, sempre com respeito e dedicação à pátria, não reflete bem a sua função atual na formação de seus alunos.

Saviani analisa o papel social da educação na escola, partindo da análise das tendências e correntes pedagógicas, dividindo-as em dois grupos: as teorias não críticas, que inclui a pedagogia tradicional, a pedagogia nova e a pedagogia tecnicista e as teorias crítico-reprodutivistas, em que estão inclusas a teoria do ensino enquanto violência simbólica, a teoria da escola enquanto aparelho ideológico de estado (AIE), e a teoria da escola dualista. O autor propõe então uma teoria crítico-social dos conteúdos no qual inclui a pedagogia revolucionária.

As teorias do primeiro grupo têm em comum o fato de entenderem a educação como um instrumento de equalização social, de superação da marginalidade. As do segundo grupo entendem a educação como um instrumento de discriminação social, um fator de marginalização. Dessas teorias, interessam as do segundo grupo por se pautarem nas relações entre a escola e o sistema socioeconômico vigente.

Entendendo que a sociedade é dividida em classes antagônicas e que há forças se confrontando, Baurdieu e passeron acreditam que a educação possui força de “violência simbólica” que por ser dissimulada perpetua a violência matéria dos dominantes sobre os dominados. Na escola, a ideologia do dominante é passada ao dominado por meio do trabalho pedagógico, que se utiliza do poder arbitrário de uma autoridade pedagógica que é tida como legitima. O professor que assim age está impondo a cultura do dominante e impedindo que a cultura do dominado se desenvolva que de fato existe, daí se falar em luta de classes.

Athusser coloca a escola no aparelho ideológico escolar, que funciona maciçamente pela ideologia e secundariamente pela repressão. Para ele a ideologia tem existência material. O trabalho da escola inculca a ideologia da classe dominante, perpetuando os interesses da burguesia.

Os autores Baudelot e Establet entendem ser a sociedade dividida em classes econômicas e sociais antagônicas e a escola é dividida em duas, de forma análoga à sociedade. A escola nessa perspectiva teria como funções, forma os novos trabalhadores para o mercado e difundir entres seus alunos os ideais burgueses.

A educação tem um caráter diferenciado para as camadas a qual se destina. Assim, os conteúdos abordados em sala de aula têm que ser condizentes com a classe para a qual o ensino se volta. As teorias “crítico-reprodutivistas” vêm à educação como fator de discriminação social e marginalizada é a classe trabalhadora, já que a marginalidade é um fenômeno inerente à própria estrutura social.

Saviani conclui dizendo que: “a escola é determinada socialmente”. Propõe então uma teoria de educação critico social do conteúdo, não como forma de superar as luta de classes, mas melhorar a qualidade da educação destinada à classe trabalhadora.

Já em Focault, no livro “Vigiar e punir” sua concepção de poder é de uma relação circular e expressa através de uma micro-física. O discurso para ele é uma prática social que instaura poder. O conceito de ideologia é substituído por regimes de verdades, não como negação daquela, mas como ampliação de sua dimensão de atuação. A relação entre dominante e dominado é relativa e o poder está em uma relação com o saber.

Transpondo esta teoria para a sala de aula, o que se ver é que o professor passa a sua visão de verdade ao aluno, que em resposta expõe a sua. É dessa forma que se instauram regimes de verdade segundo Focault. Ainda segundo Focault, a verdade que tem respaldo científico ganha primazia. Daí se explica a “verdade” (ou ideologia) do trabalhador não se desenvolver.

A disciplina torna-se o grande alvo a ser alcançado e a responsável em manter o nível de aprendizado em um patamar aceitável. Segundo essa perspectiva, é através da disciplina dos alunos e dos professores que a escola se move. Manter o professor em um regime disciplinar como de operários fabris, produzindo em todo tempo designado e, impondo ao aluno seu poder como forma de utilizar o tempo como máximo de proveito, torna-se o objetivo almejado.

A escola configura-se como um ambiente parecido com uma prisão em sua disposição física, seus mecanismos de disciplina, sua organização hierárquica, sua vigilância constante. É uma questão importante em sua teoria entender essas relações não somente como algo negativo, mas também produtivo.

Sobre esse poder disciplinador direcionado especificadamente para a escola, pode-se constatar a predominância de mecanismos disciplinadores sobre a questão qualitativa da construção do saber na escola. O ensino é sobreposto pela vigilância, pelas sanções que os alunos vão receber caso infrinjam as normas, pelos exames que terão que prestar, pela uniformização, pelo controle do tempo e espaço, tanto de alunos como professores e demais funcionários.

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